Do desconhecido a estrela do YouTube

Do desconhecido a estrela do YouTube

Uma história sobre expectativas reais e auto conhecimento

A pandemia chegou para todo mundo e isso deixou duas escolhas na nossa vida: fazer pão ou abrir um canal do YouTube.

Minha esposa escolheu o pão (ainda bem) então só me restou ter um canal.

Hoje eu vou compartilhar alguns aprendizados dessa experiência que eu espero te ajudar a decidir se você quer isso pra você.

Só pra não gerar expectativas, eu não virei estrela de nada não tá? Se você caiu no click bait, fica ai que vai ter bolo.

Eu quero mesmo isso?

Produzir conteúdo é difícil. Conteúdo de qualidade é ainda mais. E se não bastasse isso, o que não falta no YouTube é gente fazendo isso.

Quando você lê sobre o assunto a galera fala sobre nicho, persona e várias coisas que tem sua importância, mas que eu acredito que são desnecessárias para um primeiro passo.
O que eu acredito que é essencial mesmo é você saber:

Porque eu estou fazendo isso?

Existem diversas razões para produção de conteúdo: algumas pessoas querem trazer visibilidade para a carreira, querem construir audiência para vender um curso, querem retribuir o que aprenderam para a comunidade e por aí vai.

O segredo aqui é que ao entender o seu motivo, você é capaz de entender o que está disposto ou não a fazer.

Por exemplo, se você está querendo construir uma audiência para vender um curso no futuro, ter consistência e trabalhar um pouco mais(ou até muito mais) no fim de semana pode fazer sentido.

No meu caso eu demorei a entender que eu estava fazendo isso para compartilhar coisas que eu estava aprendendo e tinha aprendido ao longo dos anos.

Ao entender isso, eu percebi que o stress de me manter produzindo conteúdo não fazia sentido e estava drenando minha energia (que já não anda em alta).

Depois disso eu ajustei meu fluxo de produção para um cenário onde eu crio coisas apenas quando eu tenho energia suficiente para gastar (se você reparar, faz um tempo que eu não produzo videos :/) sem ficar me chateando por não estar criando nada hoje.

Qual é a sua linguagem?

Umas das coisas que eu levei algum tempo para descobrir e perceber foi a questão de onde produzir conteúdo.

Na época eu comecei gerando conteúdo para o Instagram e YouTube, que são duas plataformas ótimas, mas não são o jeito que eu me expresso melhor.

No meu caso tem a ver com o fato de que essa exposição me consome muito mais energia do que escrever um texto.

Isso tem a ver comigo e pode ser totalmente diferente pra você, que pode ter dificuldade de escrever mas conseguir gravar um vídeo facilmente.

Isso é importante porque nós temos um limite de energia para colocar em uma iniciativa, seja qual for, e se precisamos colocar mais energia para finalizar algo vai ficando cada vez mais difícil.

Ao perceber isso, eu tenho focado muito mais em dividir meus aprendizados de maneira escrita(mais fácil pra mim) do que em vídeos(mais custoso pra mim), você pode conferir isso nos meus últimos textos.

Eu tenho que dominar esse assunto

Essa é uma coisa que você escuta muito falar por aí e eu quero esclarecer melhor como eu enxergo isso.

Você precisa se sentir confortável pra falar de um assunto. Isso não significa saber tudo ou ter anos de prática nem nada disso.

Imagine que você está numa mesa de bar trocando ideia, esse seria um assunto que você falaria “Nossa, deixa eu te contar um negócio que eu aprendi essa semana”? Se a resposta for sim, manda bala.

Isso não quer dizer que você domina um assunto, mas que gastou um tempo naquilo e quer dividir com alguém.

Eu tenho um processo particular que me ajuda a lidar com isso (e com a síndrome do impostor que bate as vezes) ao escrever sobre algumas coisas.

Primeiro eu escrevo meu texto inteiro sem parar pra pesquisar nada (falo todas as groselhas que eu conseguir pensar).

Nem verifico o código, eu vou só jogando a ideia ali meio bruta mesmo e anotando duas coisas:

  • O que eu afirmei e não tenho certeza
  • O que eu tenho dúvida de qual é o certo (ou o melhor caminho)

Com isso eu consigo tirar a ideia da minha cabeça e escrever no papel o que eu sei. E como ninguém vai ler aquilo, ta tudo bem falar coisas erradas.

A segunda etapa é sobre sanar as dúvidas que eu anotei. A ideia é uma pesquisa rápida para tirar aquela dúvida apenas e não cair no buraco dos links (que é quando um link vai puxando o outro e você fica com 60 abas abertas no final sobre vinte assuntos diferentes).

Depois que eu tenho as respostas eu vou ajustando meu rascunho inicial para cobrir as lacunas que eu deixei, tanto das dúvidas em aberto quanto do código que eu sei que pode não estar 100% correto (Não vai publicar código que não funciona né?).

Normalmente eu deixo meu texto descansar um ou dois dias antes de revisar novamente e adicionar meus gifs (porque sempre precisa ter gif, como você já deve ter percebido até aqui) e daí finalmente eu converso com uma pessoa amiga para ela revisar (Obrigado Felipe Constantino e Marcela Sisiliani pela revisão S2).

Na época que eu fazia os vídeos eu tinha um processo parecido para escrever o roteiro, me focando no que eu sabia e deixando as pesquisas para segundo plano. Isso me ajudou a me preocupar com cada coisa no momento certo.

Eu ganho alguma coisa com isso?

Isso faz parte sim da motivação que eu comentei antes, mas eu queria trazer um tópico de destaque dada a importância: ninguém faz nada de graça.

Isso pode parecer exagero, mas é real.
Mesmo pessoas que fazem doação de tempo e trabalho comunitário fazem porque elas ganham em retorno satisfação pessoal, paz de espírito e outras coisas que só tem valor para elas. Não existe um valor financeiro envolvido, mas um valor pessoal. Por isso algumas pessoas não enxergam valor em ajudar os outros.

Jogar um vídeo game por exemplo tem como objetivo ganhar um tempo de lazer.

Ganhar algo não é ruim, nós gostamos da sensação e cada um tem aquilo que valoriza mais (eu não vou me aprofundar na discussão de valores pessoais que se não esse texto vai virar um TCC, quem sabe mais pra frente lá no Maestria eu falo disso).

A grande questão é entender o que você está esperando ganhar com essa atividade. Um exemplo muito comum é as pessoas acreditarem que vão ganhar muitos inscritos no canal e não aparecer ninguém.

Ganhar algo exige um esforço que nem sempre pode ser medido apenas no tempo gasto para fazer algo. As vezes leva anos de trabalho duro para uma iniciativa começar a dar retorno.

Um exemplo de retorno da produção de conteúdo técnico é a visibilidade na carreira.

Depois que eu comecei a escrever e fazer conteúdos eu tive muitas oportunidades de conversar com diferentes pessoas da área, o que me permitiu crescer como profissional e trazer um destaque maior para a minha trajetória como desenvolvedor, tanto dentro da minha empresa como fora dela. E esses dias eu recebi uma mensagem super legal de alguém que eu ajudei em outra empresa com um artigo meu!

Tenha clareza de como a sua empresa e o mercado vai encarar a sua iniciativa, isso vai te ajudar a ver os ganhos de curto e médio prazo para o que você vem fazendo.

Num primeiro momento pode parecer mesquinha essa linha de raciocínio, até porque eu disse antes que eu queria dividir meus aprendizados com as pessoas.

Só que o que acontece na prática é que nós somos muito voláteis. Temos dias bons e ruins. Tem casa pra limpar, cursos e muitas coisas a serem feitas.

Se você deixar apenas na mão da motivação, você vai falhar e desistir. Entender o seus ganhos te permite ter clareza do retorno de um investimento de tempo em compartilhar algo, e não ficar só na sensação de que está “perdendo tempo” porque ninguém viu seu texto/video (e é bem mais provavel que ninguém vá ver suas coisas no começo).

E se eu falar alguma besteira?

Essa é uma das coisas que eu me pergunto de tempos em tempos. Vou te contar uma história.

Tempos atrás eu decidi fazer um vídeo falando sobre o cérebro trino.
Escrevi roteiro, levantei minhas dúvidas, gastei um tempo levantando material (na época eu não tinha meu processo estruturado como eu descrevi antes, então eu gastava bastante tempo com pesquisa) e deixei lá revisado e pronto para gravar.

Acontece que na época eu tinha dúvidas sobre como gravar vídeos e resolvi assistir alguns vídeos sobre o assunto para pegar alguns insights de como falar sobre, jargões para evitar e coisas que eu não soubesse do assunto.

Num desses vídeos eu descobri que o cérebro trino é um mito, uma teoria que foi proposta em 1970 e a ciência já comprovou como falsa.

Eu quase gravei o vídeo contando e comentando várias coisas sobre algo que é cientificamente errado. Tenso né?

E tá tudo bem se eu tivesse gravado, sabe porque?
Só comete erros quem faz alguma coisa.

Se você não fizer nada, nunca vai errar. Eu já errei (e erro) ao explicar coisas, seja por falta de conhecimento ou por as coisas terem mudado (ou até por ter aprendido errado mesmo), faz parte. Lógico que eu me esforço para minimizar o erro, mas acontece.

Eu aprendo e sigo em frente (e se precisar, peço desculpas).

Uma das coisas que eu faço é pedir para alguém mais experiente no assunto revisar meu texto quando eu me sinto inseguro. Isso me ajuda a ter um olhar de alguém que tem domínio maior evitando erros bobos, ou afirmações que não fazem sentido.

Todo mundo tá falando disso

Sim, já tem um monte de gente falando disso. Dando curso de graça, fazendo live, post nas redes sociais. E daí?

A gente tem uma ilusão de que é o ser mais especial do mundo, o destaque dos destaques. Tem uma TV no céu que mostra só a gente. Não, não tem.

Desculpa se eu destruí seu sonho, não me entenda mal, você é uma pessoa especial sim, mas não por ser a última e unica bolacha do pacote.

E mesmo sendo uma pessoa especial, é difícil de ver isso porque o que torna a gente uma pessoa única são nossas diferenças.

E o que a galera fez quando começa a produzir conteúdo? Tenta ser igual.

Tudo isso para te falar duas coisas: não importa se já tem 1 milhão de vídeos de Kubernetes no YouTube, o seu é especial porque é você explicando!

É a sua maneira de explicar o assunto que pode fazer a diferença na vida de outra pessoa, mas isso só funciona se for você explicando, não uma cópia barata do vídeo na primeira posição da busca.

A segunda coisa é: demora um tempo pra você destravar essa coisa única sua. E não é por maldade não, no começo é difícil se sentir a vontade (apesar de algumas pessoas terem mais facilidade) e isso vai ir aparecendo com a prática.

É igual começar numa empresa nova, são muito incertezas, coisas para aprender e leva um tempo pra se sentir a vontade. Ou aprender uma linguagem nova, você precisa praticar para começar a se sentir a vontade naquilo.

Eu não tenho tempo pra isso

E quem tem?

Pra produzir conteudo eu abro mão de coisas. Lembra o que eu falei de saber porque você está fazendo isso? Aqui é a hora que você escolhe se quer fazer isso ou outra coisa.

Em alguns dias eu gosto de sentar e escrever, em outros eu prefiro sentar e jogar um video game, mas seja qual for o caso eu escolho isso.

A minha organização é composta de alguns elementos:

  • Temas: sempre que eu tenho uma ideia eu escrevo algumas coisas sobre isso num app qualquer (Notion, evernote, VS Code). O app não importa, só importa você escrever as ideias quando elas vieram na sua cabeça.
  • Durante a semana sempre tem um tema que aparece mais (ou que eu me empolgo mais), dai eu decido escrever um pouco mais sobre ele quando eu to afim (refinando um pouco mais o assunto). Pra você ter uma ideia, eu tenho 13 assuntos um pouco mais refinados. Aqui vale um cuidado, não é começar varios assuntos só por começar, é não ficar preocupado com escrever tudo sobre um assunto de uma vez. A mente não trabalha sempre de uma maneira linear (a minha pelo menos).
  • Metas realistas: Eu defini que eu quero escrever um artigo por mês( e tenho falhado com consistência). Dois se der. Três se eu tiver voando baixo. Então no começo do mês eu escolho um assunto e coloco ele como meta pra fechar no mês. Se eu terminar antes, eu posso até escolher outro pra trabalhar mais (a depende da minha vontade) e sem sofrimento.
  • Coloca na agenda. Eu uso as minhas sextas para focar no desenvolvimento pessoal, e entre outras coisas, para refinar alguns textos. Eu não uso só esses momentos, mas se tudo der errado (e dá) eu tenho essa agenda reservada para progredir. Isso tem de estar bem alinhado com as suas metas, se você colocar a meta de 1 artigo por semana, não vai me separar meia hora numa sexta pra fazer que não vai rolar.

Tem que gostar, tem que se divertir fazendo.

Seja video, artigo, repositório do Gitub, live na Twitch, não importa.

Se você acha um saco fazer, pode parar que não vai rolar.

Eu me divirto escrevendo e fazendo as minhas piadas, então é prazeroso o processo, sem isso eu provavelmente já teria parado a muito tempo.

Pra fechar

Se você chegou até aqui, já deixa o like e se inscreve no….

Não, brincandeira, a conclusão aqui é bem simples: muito de produzir conteúdo tem a ver com entender sobre como você funciona. O conteúdo tem que ser a sua forma de explicar algo, isso que torna ele especial.

Não é fácil. Não é simples. Só que é divertido. E você ainda pode ensinar algo para alguém que nunca entenderia aquilo se não fosse você. Imagina como é mudar o mundo de uma pessoa.

Como prometido, fica com o bolo:

Se você estiver curioso, pode achar o meu canal aqui, já recomendo esse bate papo que foi super legal: Team Lead ou Tech Lead — Liderança na tecnologia. Ele ta parado, mas um dia volta (talvez?), enquanto isso você me acha escrevendo alguns textos sobre habilidades comportamentais, carreira e o que mais me der na telha.